terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Estudo de Caso - Filme: Rain Man

SINOPSE

Um jovem yuppie (Tom Cruise) fica sabendo que seu pai faleceu. Eles nunca se deram bem e não se viam há vários anos, mas ele vai ao enterro e quando vai cuidar do testamento fica sabendo que herdou um Buick 1949 e as roseiras premiadas do seu pai, sendo que um "beneficiário" tinha herdado três milhões de dólares. Fica curioso em saber quem herdou aquela fortuna e descobre que foi seu irmão (Dustin Hoffman), que ele desconhecia a existência. O irmão dele é autista, mas pode calcular problemas matemáticos complicados com grande velocidade e precisão. O yuppie seqüestra seu irmão autista da instituição onde ele está internado, pois planeja levá-lo para Los Angeles e exigir metade do dinheiro, nem que para isto tenha que ir aos tribunais. É durante uma viagem cheia de pequenos imprevistos que os dois se compreenderão mutuamente e entenderão o significado de serem irmãos.
Rain Man nos apresenta um interessante fenômeno que surge em doentes crônicos, que é a presença de dons cognitivos extraordinários. Na mesma pessoa se encontram dois lados do cérebro humano, onde um é muito desenvolvido e outro é pouco desenvolvido psiquicamente. Os dons mais relatados pelos estudiosos seriam o da matemática, música, mecânica e desenho, onde estas pessoas autistas são verdadeiros gênios.
Estas situações são difíceis de serem encontradas e na maioria das vezes são desenvolvidas em pessoas do sexo masculino. Estas genialidades predominam em pessoas que apresentam algum transtorno ou síndrome, mas clinicamente falando, apresentam-se mais nos casos de autismo e a síndrome de Asperge. Para conceitualizar este fenômeno, o termo mais usado é a Síndrome de Savants, que significa a Síndrome dos Sábios.
De forma geral a pessoa que apresenta autismo tem uma dificuldade muito grande de interagir com a sociedade, em adquirir uma linguagem específica e tem sua frequência de atividades sempre reduzida sendo muito repetitivas.
Além de todas estas dificuldades presentes em doentes crônicos não podemos fazer comparações em se tratando de níveis de desempenho entre estes e pessoas normais.

O autismo e a sua relação com a psicanálise

Domingues (2003) comenta que:

“A Psicanálise como ramo do conhecimento humano, necessita de uma grande renovação para sua própria sobrevivência. Sua contribuição para a compreensão dos fenômenos mentais foi fundamental no século passado. As descobertas realizadas por Sigmund Freud influenciaram enormemente o pensamento ocidental, determinando uma mudança consistente, inclusive nos procedimentos hospitalares no que tange ao tratamento de pacientes portadores de distúrbios mentais. O brilhantismo intelectual de Sigmund Freud e sua visão de futuro foram fundamentais no pensamento moderno. Seus seguidores, Melanie Klein, Wilfred Bion, Winnicott, Margareth Mahler, entre outros tantos, buscaram uma compreensão dinâmica dos processos mentais, gerando a construção de um edifício teórico substancioso e de valor inestimável”.

Tendo como base a citação acima, podemos analisar a importância da Psicanálise no estudo das doenças mentais, pois a mesma nos proporciona um vasto conteúdo da Psicologia como um todo. Para que haja uma explicação do autismo, a psicanálise nos traz conhecimento de vários aspectos deste.
Segundo Domingues (2003), na atualidade, podemos perceber o quanto a Psicanálise se desenvolveu.

“Atualmente temos muitas condições clínicas como a esquizofrenia, depressões, transtornos de ansiedade generalizada, autismo infantil, que são verdadeiras janelas para a compreensão da interação corpo-mente nos seres vivos. Os conhecimentos advindos das pesquisas mais recentes da genética e da biologia molecular enriqueceram nossa compreensão sobre os referidos fenômenos. No entanto, a Psicanálise teima penosamente em recusar tais avanços, isolando-se do mundo acadêmico contemporâneo e mantendo-se num isolamento desnecessário, autístico e, portanto, improdutivo”.

Muitos estudos já foram realizados para responder algumas perguntas sobre o autismo, como quanto à genética da doença sabe-se que:

“[...] um comprometimento genético, ligado aos cromossomas 7 e 15, gerando dificuldades na metil ação da citosina, pelo menos na síndrome de Rett, variante feminino do espectro autístico. Tais alterações levariam a uma hiperfunção muito precoce do sistema de neurotransmissão dopaminérgico mesocortical nas regiões frontais, com alterações semelhantes à da esquizofrenia, porém ocorrendo nas fases inicias da vida infantil, comprometendo severamente a evolução dessas crianças no âmbito social, comunicacional e cognitivo. Esse quadro clínico também pode ser decorrente de infecções gestacionais como rubéola, toxoplasmose, citomegalia congênitas, neurofibromatose, traumatismos de parto, meningoencefalites, traumatismos crânio-encefálicos. Portanto, sua determinação é multifatorial e não psicológica, como se acreditou durante muitas décadas.” (DOMINGUES, 2003).

O autismo pode ser classificado de acordo com o comprometimento total do indivíduo com a doença.

“Hoje sabemos que o espectro autístico é composto por vários subgrupos: autismo típico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, e autismo atípico, com diagnóstico diferencial para síndrome do X frágil, síndrome de Landau-Kleffner, síndrome de Williams. Há consenso mundial atual de que esses pacientes têm uma dificuldade de apreender os sentimentos do outro, mantendo um ponto de vista pessoal e único a respeito do mundo, com visão concreta e estereotipada dos fenômenos mentais. Quanto ao seu grau de compreensão, podemos dividir os pacientes autistas em 02 subgrupos: os de baixo funcionamento, com deficiência mental associada e, os de alto funcionamento, com inteligência e habilidades mentais superiores. Lembramos também que 1/3 desses pacientes manifestam crises convulsivas até o período da adolescência, denotando um componente cerebral importante na sua condição clínica”. (DOMINGUES, 2003)

Como Freud ajudaria a Psicologia na compreensão psicodinâmica e clínica? Segundo Domingues (2003):

“O próprio Sigmund Freud deixou entrevisto, em seus inúmeros escritos, que o ser humano é o produto da sua constituição genética, acrescida das séries complementares de desenvolvimento, questão que a Psicanálise contemporânea parece ter esquecido.

Estudos recentes, levados a efeito por Rakic e seu grupo, têm demonstrado que o cérebro precoce, em especial o tálamo, sob a influência de estimulação externa, tende a determinar uma especialização cortical diferenciada, com a construção de respostas também diferenciadas. Dito isto de outra forma, seríamos como seres humanos, o resultado, o produto de uma disposição genética constitutiva, influenciada pelas nossas experiências pessoais, construtoras do nosso modo de ser. Quando Margareth Mahler descreveu os 03 estágios infantis de desenvolvimento, como sendo: etapa autística, de simbiose e de separação materno-infantil, ela estava ressaltando, do meu ponto de vista, uma visão fenomenológica e não causal das vicissitudes do desenvolvimento infantil. Entre essa descrição fenomenológica e a crença de que a mãe seria a causadora do autismo infantil, vai uma distância abissal.”
Autismo é uma alteração “cerebral” / “comportamental” que afeta a capacidade da pessoa se comunicar, de estabelecer relacionamentos e de responder de forma adequada ao ambiente em que vive. Algumas pessoas, sejam crianças ou adultos, apresentam inteligência e fala intactas, outras apresentam comprometimento mental, mutismo ou atrasos importantes no desenvolvimento da linguagem. Muitos se centram em si mesmo e as relações afetivas são prejudicadas e não desenvolvidas. Tem características de isolamento e dificuldade de expressar emoções.
O Autismo se manifesta através da diminuição no uso de comportamentos não verbais; evita olhar nos olhos do interlocutor; ausência em dividir satisfações, interesses ou realizações com outras pessoas; indiferença; diminuição da habilidade de iniciar ou manter uma conversa com outras pessoas; obsessão por parte de objetos.
As causas deste transtorno ainda não foram descobertas. Facilmente confundido com deficiência mental, o autismo é um transtorno do desenvolvimento que geralmente está associado a outras deficiências. O Autista poderá desenvolver a comunicação verbal, integração social, alfabetização e outras habilidades, dependendo de seu grau de comprometimento. Importante o acompanhamento de equipe multidisciplinar nas áreas de Fonoaudiologia, Psicologia, Educação Física, Musicoterapia, Psicopedagogia, entre outras.
Os primeiros sintomas aparecem na infância ou na adolescência. Por ser uma doença crônica ela não possui cura e seu padrão é de longa duração. O funcionamento mental da pessoa é disfuncional, sendo de forma desarmônica. Normalmente gera prejuízos ocupacionais, sócio afetivo e atrasos na linguagem, com a possibilidade de estar causando prejuízos para as pessoas que estão próximas ao autista. Compromete ao menos duas áreas da vida da pessoa, como por exemplo, na família, no trabalho e na vida social.
Não é considerada uma deficiência mental. Caracterizada pelo isolamento, pela obssessividade e ecolalia. A etiologia do autismo não é uma certeza e possuiu hipóteses multicausais, oscilando em vários níveis de gravidade.
A intervenção terapêutica se da através da reabilitação, trabalhando com os sintomas, onde pode ser aplicado um tratamento terapêutico psicológico na abordagem da Terapia Cognitiva Comportamental, no qual apresenta melhores resultados.
Os profissionais psicólogos estão fazendo uso de técnicas comportamentais a fim de induzir uma normalização no desenvolvimento da pessoa autista, onde ocorre o ensinamento de funções básicas, como se vestir, comer e questões de higiene. Os medicamentos são usados, com o intuito de auxiliar na normalização destes processos básicos que podem estar comprometidos, para poder controlar de forma mais eficiente o comportamento destas pessoas, facilitando o processo do tratamento.
Muitas técnicas terapêuticas tem sido utilizadas para auxiliar no tratamento de pessoas que possuem problemas emocionais diversos. O uso destas visa à reeducação, para facilitar os relacionamentos interpessoais e auxiliar na aceitação do problema que a pessoa tem, fazendo com que ela funcione dentro do possível da normalidade.
É importante, porém, deixar bem claro que estas técnicas só funcionam quando o profissional tem treinamento específico nas mesmas e se sente motivado a ajudar. Além disto, o funcionamento intelectual cognitivo específico destas pessoas tem que ser levado em consideração para se dimensionar adequadamente a terapia.