Todas as religiões em nossa
sociedade são válidas até certo ponto, vendo do ponto de vista que todas
recolhem e conservam imagens simbólicas que vêm do inconsciente, formando-as em
dogmas, realizando conexões com as estruturas básicas da vida psíquica. Esta
construção de imagens religiosas simboliza o elo à nossa origem que vêm de um
efeito dinâmico que aos poucos vai dominando o ser humano, porque é
independente de sua vontade.
A religião pode tomar uma
concepção de profissão de fé ou uma experiência ou uma serie de experiências
primordiais, no qual o homem se insere em uma relação com um sagrado. No primeiro
caso a apresentação de religião se dá como um grupo de representações fixas,
símbolos nos quais a definição cultural se impõe às relações psíquicas naturais
e geralmente as oculta. A religião supõe uma crença e a divulga como sendo um
emaranhado de dogmas, e não existe o impedimento de uma probabilidade de uma
relação direta entre o crente e seu Deus. Apresenta-se através de ritos e
liturgias, como sendo mediadora graças à qual o homem se encontra com o divino.
Ocorre a divulgação de uma
divisão no individuo em corpo, alma e espírito, no qual sua função era evitar
dissociações neuróticas, que se consegue através do autoconhecimento, do encontro
entre o Ego e o Self, entre a realidade física e a psíquica. Por isso é
importante o ser humano desenvolver uma atitude religiosa, independente do
credo ou do dogma.
O “Deus” ou também as
“divindades” estão muito distantes do alcance do humano e se revelam como
imagens psíquicas, ou seja, símbolos. E as pessoas para se aproximarem mais do seu
Deus realizam os ritos. Os símbolos são ideias religiosas; sob a forma de ação,
são ritos ou cerimônias. São manifestações e expressões do excedente da libido.
Estes símbolos são inerentes à linguagem das religiões. Símbolos envolvidos em
verdades incontestáveis e bem organizados.
As principais figuras simbólicas
de uma religião constituem sempre a expressão da atitude moral e espiritual
específica que lhe são inerentes. A percepção de uma figura religiosa pelos
sentidos apoia a transferência da libido para o símbolo.
As bases das imaginações
simbólicas vêm diversos pontos socioculturais, inclusive da religião, sabendo
que a ansiedade e a utilização destes símbolos são acontecimentos sociais. O homem
é um ser dependente dos sistemas simbólicos, por que se tornam determinantes
para sua viabilidade como criatura. E qualquer suspeita de que não somos
capacitados para enfrentar um ou outro jeito da experiência provoca em nós uma
grande ansiedade, que irá nos corromper por que sabemos que não somos capazes
de enfrentar o caos.
Não temos limites para nossas
imaginações, por que a consciência se sobrepõe ao inconsciente e é deste que
irá brotar novamente. Não conseguimos fixar limites para a consciência, pois
teoricamente pode se estender infinitamente, mas chega a um ponto em que ela encontraria
seus limites quando atinge o desconhecido. Desconhecido este que se divide em interior
e exterior que são os objetos de experiência.
O inconsciente possui dois jeitos:
um que é bom e outro que é mau. O inconsciente é a fonte próxima de nossas
experiências religiosas. São nos confrontos entre o bom e o mau, entre o inconsciente
e consciente que a personalidade irá amadurecer e se tornar uma única
composição, como sendo um individuo especifico ou inteiro, identificando-se
como um processo de identificação.
Nas profundezas da psique se
encontra o arquétipo de Deus e com as experiências interiores e exteriores a um
confronto que poderia desintegrar o Ego. E em defesa disto o homem realiza os
determinados rituais. Estes servem como proteção entre o divino e o humano:
entre a imagem de Deus que é presente e o Ego.
Existem verdades psíquicas que
não podemos recusar, mesmo que sejam difíceis de explicarem. Todas as religiões
vêm do mesmo lugar: o inconsciente coletivo através de experiências. O que
existe são modelos de Deuses que são formados em nosso inconsciente. É o contato
com os “mistérios” de cada religião que se expressa simbolicamente com o nosso inconsciente,
satisfazendo nossa religiosidade. Esses mistérios sempre foram à expressão de
uma condição psicológica fundamental.
Assim, fazendo uma análise,
percebesse que as religiões acabam se encontrando enquanto houver uma função
psicológica em uma determinada sociedade e cultura, surgem da natureza. E esta
simbologia deixa de ser cósmica e passa a ser um acontecimento psíquico.
A religiosidade poderia ser
desenvolvida, cultivada ou aprofundada como uma função psíquica, mas também
poderia ser negligenciada, reprimida ou corrompida. Sabendo que a função psíquica
procura um caminho para conseguir descarregar suas energias. Um caráter
religioso também pode conceber um sentimento; por que as devoções às ideias de
Deus podem existir, desde que seja absoluta. Para praticar uma verdadeira
religião, deveríamos vivenciar diversas experiências que nos levariam a
alcançar uma perfeição conscientemente às realidades inconscientes.
Mesmo que o homem tentasse se
livrar de Deus, jamais conseguiria, por ser, no fundo de sua psique, religioso,
teísta, possuindo em seu ser mais profundo um dinamismo que o motivaria ao
encontro de Deus. Um sujeito ateísta seria aquele que não permite este
dinamismo que o motivaria para Deus, que faz um corte com o consciente e o
inconsciente. Por isso existe o papel do psicólogo terapeuta, auxiliar o
paciente na reconstrução de uma “religião” verdadeira que seja íntima de
si-mesmo.
As inúmeras experiências do que
vem a ser divino nos levam a comparações psicológicas que, podem levar a
protestos por parte das pessoas que defendem infinitamente a religião, como os
teólogos, para verificar a veracidade das palavras e certas imagens. Pode ser
que as experiências não existam, ou então que ocorra um devaneio conceitual, ou
ainda que o divino seja arrastado para imagens e experiências que não são
consideradas sagradas. Por causa disso as imagens e experiências surgem ao
psicólogo como uma continuação da revelação dentro e através da alma, sem
limites, e para além dos confinamentos de qualquer dogma. Estas duas situações são
aspectos coletivos compartilhados pela mente de todos nós na sociedade em que
vivemos atualmente.
Profissionais que trabalham com
a saúde mental devem considerar a religião, por que esta representaria o que
existe de mais antigo e universal na mente humana, para que não sejamos considerados
pessoas que possuem um grande vazio em nossa mente tão pequena. Mas com base em
inúmeras experiências sabemos que é o contrário.
Em culturas que são consideradas
tribais, por exemplo, o mito e a religião formam uma unidade de Deus em Jesus
já existente. Já a religião está ligada ao conceito de arquétipo, elementos
estes que são apresentados como ideias e imagens.
Todos sabem que Deus é um mistério, e tudo o que
falam sobre este mistério é dito e acreditado pela maioria dos seres humanos.
Criamos conceitos e imagens coletivas, mas cada ser em sua individualidade pode
criar uma imagem diferente de todas as outras. Mas a verdade é que ninguém
realmente sabe com o que se parece, pois quem o conseguisse fazer seria ele próprio
um deus.
Assim como acredito, também não
acredito na religiosidade, mas realmente sinto um poder de natureza muito
pessoal e um controle que às vezes é desconhecido, mas que costumo chamar de
“Meu Deus”.
O limite entre o religioso e o
psicológico é perceptível. A Psicologia brotou da Psiquiatria, da
Psicopatologia e da Fisiologia. Uma ciência que possui um objeto de estudo.
Hoje a consideramos como a ciência do comportamento humano com várias escolas
que falam a respeito de ser e viver. Já a religião tem um componente
metafísico, uma procura do transcendente do mundo com a busca do divino, do que
é sagrado. São considerados objetos de percepção diferentes.
É o próprio ser humano que não
se conhece que se destrói, que se auto arrasa. Cada vez mais o ser humano está
se distanciando do universo inútil em relação a si mesmo. Está fugindo de si
próprio por que não está se aguentando. De tal modo estamos avançando na nossa
caminhada que chegará um tempo em que nós nos conheceremos realmente, para ver
que temos uma herança interna imensa a ser descoberta.
É aceitável dizer que o ser
humano é diverso e múltiplo, ninguém é igual a ninguém e nem deve ser. Nós
fomos criados por um Deus e fomos aos poucos nos desenvolvendo com o passar das
décadas. Muitas pessoas se perguntam qual seria então a relação entre Religião
e Psicologia? Será que Jesus com toda a sua fé e religiosidade seria o maior
psicólogo do mundo?
A relação entre estas duas
incógnitas devem ser as mesmas que as entre ciência e fé. Por exemplo, ninguém
contraria que certos problemas pertencem ao médico, e somente a ele, cabe medicar.
Quando alguém próximo a nós fica doente, talvez uma de nossas atitudes seja
rezar, mas nem por isso deixamos de levá-lo a um médico. O mesmo deve acontecer
com o psicólogo: quando sabemos que alguém esta sofrendo psiquicamente, é ao
psicólogo que deve ser encaminhado, portanto isso não anula a oração das
pessoas crédulas. Porém somente a oração não irá garantir melhora alguma,
devemos tratar cada problema em sua necessidade contextual.
A religião divulga certas
características psicológicas do homem, que são divididas com os integrantes de
uma sociedade. Existe uma relação entre Psicologia e Religião; a Psicologia não
se reprime a caracteres religiosos e vice-versa. O psicólogo não é um agente
pastoral disfarçado. A religião, no entanto se torna objeto de apreciação
psicológica. Portanto o papel do religioso, quanto do psicológico, conserva-se
protegido.
Será que Jesus foi o maior
psicólogo que existiu até agora? Isso irá depender se nós aceitarmos ou não. Se
acaso formos aceitar que Jesus apenas curava doentes mentais; ou se aceitamos
que naquela época um problema médico exigia a presença de um psicólogo para que
analisasse as situações de “doença mental”, e se acaso hoje em dia os
psicólogos apenas aplicam uma religião mal feita, então poderíamos dizer que
Jesus foi o maior psicólogo que já existiu.
Portanto é melhor acreditar que
Jesus estava lá para fundar uma religião do que para acabar montando um
consultório. Jesus não foi apenas isso, Ele foi muito mais do que nós pensamos
em acreditar no que ele fez.
Quando falamos em religiosidade
e quando movimentamos tal objeto com certo bem estar psicológico é possível que
nossos problemas tenham uma consequência diferente dos cristãos protestantes ou
católicos de países ocidentais, budistas, religiões africanas ou para membros
de outros grupos étnicos, assim como também para membros de pequenas seitas. No
mesmo significado, em países ocidentais, a religiosidade poderá ter
explicações, e consequências diferentes para as pessoas de diferentes grupos
sociais.
Supostamente quase em sua
totalidade os problemas de saúde que aborrecem os humanos são concretizações de
problemas emocionais e do estresse. Estes problemas podem ser abolidos com certa
facilidade de fé, orações, visitas a santuários e mais diversos curadores de
toda parte, mas para quem realmente acreditar em seu poder. No entanto a cura
pode ser casual, por que as fontes geradoras do problema não são eliminadas
pelo curador. E também a religião não irá aumentar nossos conhecimentos em
relação à saúde e doenças.
Visivelmente não existe nenhuma
semelhança entre religiosidade, à fé e o surgimento de doenças, principalmente
os que estão ligados à herança genética, como os cânceres, problemas cardíacos,
circulatórios, infectocontagiosas e as doenças mentais. Até porque os vírus e
bactérias não conhecem a nossa fé.
Porém temos que saber a
diferença entre a origem da doença e seu desenvolvimento depois de instalada.
Por que existem pessoas doentes que logo desanimam, entregando-se e morrem com
facilidade. Já outros são firmes na esperança, acreditam na cura, e lutam mais,
mesmo em doenças que supostamente sejam incuráveis, vivendo assim por mais
tempo.
Outra situação importante é a
origem das doenças. Sabemos claramente que as doenças surgem por razões
naturais e nunca por coisas do além, ou sobrenaturais, lógico para quem acreditar...
Mesmo sabendo que a uma origem natural para nossos males, temos que banir
causas naturais que são resultados de superstições. Mau olhado, astrologia,
porque, acredito que pensamentos e sentimentos não têm o poder de estar
causando prejuízos aos outros. Pensar, ou falar a palavra “morte”, não quer
dizer que irá atrair esse mal a você ou a outra pessoa no qual você deseje,
também a perca de tempo com trabalhos de macumba, vodu, ou qualquer outro
ritual espiritual possa prejudicar alguém, porque são totalmente inúteis, pois
são as únicas coisas que podem causar medo com todas as suas consequências em
pessoas que são muito crédulas e supersticiosas.
Acredito que nenhum ser humano
poderá prejudicar aos outros através de maldição, orações e bruxarias. Deus
incontestavelmente não aceitaria servir de base para um castigo para pessoas
que não tem o hábito de praticar a compreensão e caridade para com o próximo.
Todas as maldições são utópicas e são inúteis, mesmo que sejam ditas por
autoridades religiosas.
Deus não daria força alguma para
o diabo ter o poder de causar doenças. É provável que antigamente, nos tempos
bíblicos, praticamente todas as enfermidades eram aplicadas aos maus espíritos.
Aliás, os antigos imaginavam que o mundo estava povoado por espíritos maus e
bons e praticamente o que acontecia aos humanos era comandado pelos espíritos.
Coisas como bons pensamentos, sentimentos nobres eram gerados por espíritos
bondosos. Já o contrário disto, como os acontecimentos ruins foram gerados
pelos espíritos maus, por que naquela época ainda não se sabia a respeito da
química das emoções, nem dos micróbios, bactérias e vírus. Estes tipos de crenças
entre o bom e o mau, são existentes nos pensamentos e práticas de muitas
pessoas como os protestantes e católicos pentecostais, umbandistas que são uma
religião inserida na religiosidade cultural brasileira, espíritas e outros.
Deus não castiga e nem prova
nada a ninguém. Ele conhece tudo a nosso respeito. Não precisa de provas. Não
fica distribuindo pela sociedade doenças. Se o fizesse, seria muito injusto.
Para comprovar isso é só
comparar os níveis de saúde e a duração de vida nos países do Primeiro Mundo,
bem menos religiosos e mais materialistas, com a mortalidade e doenças dos
países pobres, mais religiosos e menos materialistas.
Em uma frase é possível resumir
os problemas desta espécie: são frutos de nossas injustiças. Por que a maior
parte dos nossos problemas da saúde do Terceiro Mundo é causada pela pobreza,
falta de investimentos e educação e sistema hospitalar, ignorância, sujeira e desânimo.
E por isso não temos o poder de atribuir à vontade de Deus, seria a maior mentira
que cometeríamos.
Conseguimos observar a mesma
coisa no relacionamento das pessoas com Deus. Por que as pessoas na maioria das
vezes se relacionam com Deus por causa de seus interesses pessoais e imediatos.
Querem fazer exploração do seu Deus, fazer com que ele preste serviço a esta
pessoa e às vezes quando não são atendidos partem para o conflito e frustração.
Culpam Deus, dizem-se decepcionados e cobram muito. Na verdade é comum que o
ser humano imagine um Deus mais a imagem dele próprio do que ele querer repetir
em si a imagem de Deus. Então ai que surge o nosso papel de interesseiros e
Deus é tão desinteressado e generoso.
Cada vez com mais frequência
pessoas religiosas buscam sacerdotes para fazerem uma orientação em seus
problemas que são visivelmente de ordem psicológica. Mas é lógico que algumas
destas pessoas pensam que seus problemas são simplesmente espirituais e esperam
que o sacerdote consiga lidar com estes problemas espirituais, quando na
realidade estes problemas são de ordem natural, psíquica e relacional. Estas
pessoas vão procurar o sacerdote, o centro espírita, o pastor ou o
pai-de-santo, quando na verdade seria mais vantajoso procurar um psicólogo e de
preferência que ele conheça este universo misterioso de nossa cultura
religiosa.
Sabemos que os religiosos
trabalham com dados da fé, afirmações religiosas e teológicas. Trabalham com
dogmas, revelações divinas e valores. Eles não têm por obrigação de serem cientistas.
Já do outro lado, o psicólogo tem a obrigação de ser bem conhecedor em
ciências.
Quanto mais o psicólogo souber
sobre ciência, melhor será para o seu cliente. Ele, porém trabalha basicamente
com afirmações de ordem cientifica. Os religiosos trabalham com fé, dogmas,
mandamentos e doutrinas certas. Além disso, se espera que o sacerdote, ou o
conselheiro religioso seja um bom pastor, isto é: que ele ame a pessoa que o
procura, que sinta no coração um pouco de compreensão e misericórdia, que tente
representar a infinita bondade do coração de nosso Deus. O sacerdote de forma
alguma vai trabalhar com dados mais objetivos do que o psicólogo. Enquanto
isso, o psicólogo se importa mais com a subjetividade do cliente. Interessa-se
mais pela forma com a pessoa vai se relacionar com os dados de sua fé, e
principalmente, como ele é atingido, afetado e transformado pelos dados
religiosos. O psicólogo é um agente de saúde mental. É a saúde, o bem-estar, a
qualidade de vida que importam em primeiro lugar.
Considerações
Finais
Realmente estou convencido de
que não só o psicólogo, mas também o padre precisam ter a qualidade de vida das
pessoas às quais serve como objetivo número um de sua atividade.
O bem-estar no seu todo deve ser
objeto de cuidados de quem serve o irmão, tanto no psicólogo, no sacerdote,
como em qualquer religioso. Como afirmava anteriormente, preocupo-me com a
forma pela qual a religião afeta o espírito, a mente, o pensamento, as
atitudes, ou seja, o modo de viver da pessoa.
Por si mesmo, o bem-viver é
excelente alimentador da saúde. Minha impressão é a de que muita gente imagina
que a religião só pode fazer bem, pois ouço muitas vezes a observação: "Está
faltando religião".
Agradeço a Lilian Yara Gomes pela ajuda na tradução
de uma parte do trabalho.
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