segunda-feira, 21 de maio de 2012

Kung Fu Panda

A animação Kung Fu Panda, da Dream Works traz inusitadamente, como protagonista, um urso panda, grande, gordo e desajeitado. Po, tem um sonho que o persegue desde a infância, ser lutador de Kung Fu. Ele não consegue, porém, acreditar o suficiente em si mesmo para alcançar este objetivo, portanto prefere ficar nos bastidores, atuando como fã dos lutadores que ele venera.
Assim, ele se torna fanático pelos Cinco Furiosos – o grupo que inclui, entre os melhores guerreiros chineses, a Tigresa, o Macaco, a Víbora, a Garça e o Louva-Deus -, treinados pelo Mestre Shifu. Este é o mais poderoso de todos os instrutores de Kung Fu, depois de seu próprio orientador, o Mestre Oogway, uma tartaruga milenar.
Depois que Oogway sonha, profeticamente, com a fuga do terrível Tai Lung da prisão, que uma vez livre voltaria para destruir o Vale da Paz, torna-se necessário reviver uma remota profecia, ou seja, escolher o único lutador capaz de derrotar o vilão. Não por acaso, como afirma o sábio Oogway, que não crê em acidentes, Po é o eleito, para desespero de Shifu e dos seus lutadores, principalmente da Tigresa, que já se considerava selecionada para empreender este feito glorioso.
O maior desafio de Po, porém, não é vencer seu adversário, mas sim acreditar em si mesmo, conquistando assim a confiança de seu Mestre e dos seus companheiros. Habituado a se ver apenas como um futuro especialista na área gastronômica, mais particularmente na arte do macarrão, transmitida de geração em geração, cultuada também por seu pai, curiosamente uma ave e não um panda, ele se viu obrigado a reprimir dentro de si o desejo latente de ser um guerreiro.
Aos poucos, porém, com a ajuda dos conselhos de Oogway, Shifu e Po vão se aproximando e compreendendo verdades que até então não percebiam. Este sábio ancião ensina o panda a valorizar o presente, pois o passado ficou para trás, e o futuro ainda não se realizou. O mestre de Kung Fu é levado pela tartaruga a refletir sobre a importância de aceitar o outro como ele é, sem excessivas expectativas, pois um pessegueiro jamais produzirá maçãs.
A partir deste momento, observando melhor o panda, Shifu começa a entender que basta adaptar suas estratégias de luta a táticas que condizem melhor com a personalidade e as características de Po, especialmente sua incrível compulsão para a comida. Estimulado por esta mudança nos treinamentos, o aspirante a lutador de Kung Fu começa a descobrir seu próprio potencial.
A princípio ele age apenas por impulso, como resposta ao estímulo do alimento – uma isca para que ele se entregue completamente aos árduos exercícios. Mas, gradualmente, Po vai despertando e se conscientizando de seu dom e dos seus progressos. Quando, porém, se vê diante da realidade concreta, o efetivo retorno de Tai Lung, seu pior inimigo novamente o confronta – o medo.
É então que o panda aprende sua maior lição, com a ajuda do pai. Diante do enigma de decifrar um antigo pergaminho, que só o grande guerreiro poderia ler, e com seu conteúdo se tornar invencível, ele e seus amigos desanimam e se sentem derrotados, pois o manuscrito está em branco.
A ave, ao lhe transmitir o segredo do macarrão de sua família, revelando-lhe que o ingrediente secreto não existe, pois basta que ele acredite no que está criando, lega ao filho a resposta, a fórmula mágica que poderá ajudá-lo a derrotar o vilão. Basta que ele confie em si mesmo, que se considere realmente especial.

Kong Fu Panda e a questão da liderança


O que é liderança? O que é ser um líder?

Existem enumeras definições. Duas são realmente valiosas para nossa concepção. A primeira é do consultor de RH, James C. Hunter, famoso no mundo inteiro pelo seu livro “O monge e o executivo”: Liderança é “a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir objetivos comuns” (2004:25).
Outra definição de liderança, um tanto complementar à primeira, é a do psicólogo Pierre Weil. Ele procurou formular uma definição de líder que fosse aceita por filólogos, psicólogos e sociólogos. Para ele: “Líder é todo o indivíduo que graças à sua personalidade, dirige um grupo social com participação espontânea dos seus membros” (1972:16).
Vários pontos aqui merecem destaque: a possibilidade de qualquer um ser líder, a questão da personalidade e do grupo social, bem como a influência que o líder exerce sobre os membros.

1º) “Líder é todo indivíduo”

É assim que Pierre Weil inicia sua definição de líder. Para o autor, liderar independe do sexo. No filme Kong Fu Panda, embora observemos que, predominantemente o papel de líder é ocupado pelo sexo masculino (Sr. Ping, Po, Mestre Oogway, Mestre Shifu, o diretor da prisão e Tai Lung), a personagem Tigresa desempenhava certa influência sobre o comportamento dos Cinco Furiosos.
Para Weil, liderar não depende da idade. Em Kong Fu Panda, vê-se que Mestre Oogway (uma tartaruga) é centenário, enquanto Po (o Panda, personagem principal) é bastante jovem, um adolescente talvez.
Liderar independe do meio social. Na animação da Dream Work, o pai de Po, Sr. Ping (um ganso), é dono de um restaurante, onde se serve macarrão. Ele exerce dupla liderança sobre seu filho: como pai e como patrão.
Liderança também não está, necessariamente, relacionada com o cargo ou status de uma pessoa. Dentro de um estudo sobre a questão, pode-se observar que existem dois tipos de liderança: a formal e a informal.

a) Liderança Formal: é aquela que está relacionada a um cargo de chefia. Por exemplo, observa-se no filme que, no Templo de Jade, havia uma “hierarquia de comando” bastante clara: Mestre Oogway liderava o Mestre Shifu que, por sua vez, comandava os Cinco Furiosos;
b) Liderança Informal: não ocupa um cargo oficial de comando, mas exerce uma influência considerável sobre um grupo de pessoas e sua opinião é respeitada por elas.

O exemplo mais claro na animação é o comando de Tigresa com relação aos Cinco Furiosos.
Liderar não é, necessariamente, uma habilidade técnica, restrita às tarefas ou ao conhecimento racional. No longa da Dream Work, percebe-se que os Cinco Furiosos dominam as artes marciais e o Panda é um pobre desajeitado. Mesmo assim, ao final, alcançou a posição de mestre e o respeito de todos. Por outro lado, Tai Lung, o grande antagonista da história, era o mais habilidoso de todos, entretanto, abusava de seu poder, desrespeitando os outros, inclusive seu mestre. Para James C. Hunter, “os líderes verdadeiramente grandes tem a capacidade de construir relacionamentos saudáveis” (2004:35). Outro grande treinador de líderes da atualidade, John C. Maxwell, afirma que “na liderança, contam tanto o cargo, como os relacionamentos” (2008:20).
Existe uma grande polêmica em torno da seguinte questão: os líderes nascem, ou se aprende a ser líder? Para muitos se trata de uma habilidade inata, para outros, como Warren Bennis: “os líderes são feitos, em vez de nascerem” (citado por Hunter, 2006:24). É essa também a opinião expressa em Kong Fu Panda: Po nasceu filho de um vendedor de macarrão, mas queria ser lutador, sonhava com isso. Até que decidiu correr atrás de seu sonho, o que lhe exigiu muita coragem, perseverança, paciência e dedicação. Ele podia ter desistido, mas confessa ao Mestre Shifu que “sempre que o senhor jogava alguma coisa em mim ou dizia que eu fedia, isso me magoava... só não magoava mais do que ser eu mesmo todos os dias de minha vida”. Ele não se acomodou, foi em busca de realizar seu sonho.

2º) A questão da personalidade

Pierre Weil entende que personalidade tem a ver com a forma com a qual a pessoa se adapta às situações. Os psicólogos dizem que se forma durante a infância, através de nossas experiências vividas, as quais podem vir a influenciar o modo pelo qual nos relacionamos com os outros e com o mundo.
Na animação em questão, pode-se perceber que o Mestre Shifu tratava seus discípulos de modo rigoroso e, por vezes, até frio. Po até ironiza dizendo que ele não sabia o que era um sorriso. Mas, através de um flash back narrado por Tigresa, ficamos sabendo da raiz do problema: Shifu tivera uma experiência negativa com Tai Lung, seu aluno preferido, a quem adotara como filho. Isso fez com que o mestre se fechasse para outros relacionamentos afetivos, mantendo-se distante dos discípulos.
O padre beneditino Anselm Grüm nos ensina que devemos conhecer quem somos, conhecer nossa autoimagem para evitar essa “transferência”: “a liderança está relacionada com a condução da própria pessoa, eu lidero assim como eu sou – e não como fui treinado, pois os comportamentos impostos, que não estejam enraizados em minha personalidade, não duram muito. O desenvolvimento da própria pessoa é, pois, a verdadeira tarefa na vida, a dimensão profunda da liderança” (citando Erhart Meyer-Galow, 2009:21).
Os diferentes tipos de personalidades criaram diferentes tipos de líder.

a) O líder sistemático é aquele que analisa e planeja tudo cuidadosamente, impõe lógica e estrutura às tarefas e exige dos seus subordinados os seus próprios padrões de perfeição. Executa o trabalho de forma objetiva e segura, mas quando a situação exige súbitas mudanças de rumo, sua falta de flexibilidade pode estressar a equipe.
Este é o caso do Mestre Shifu. Muitas vezes, ele se mostra impaciente, impulsivo, durão e até insensível, cobra demais de seus discípulos, está sempre exigindo a perfeição. Sua mente é inquieta. Ele está sempre em busca de paz e do controle. Mestre Oogway descreve Shifu em duas situações.
Na primeira, diz para Shifu que “sua mente é como a água... quando agitada fica difícil de enxergar, mas quando permite que se acalme, a resposta fica clara...”
Em outra ocasião, os dois conversam no Pessegueiro Sagrado:
− O Panda não cumprirá o destino dele nem você o seu até você se livrar da ilusão do controle – diz Oogway.
− Ilusão? – questiona Shifu.
− Sim. Olhe para essa árvore, Shifu. Não posso fazê-la florescer quando me convém, nem dar frutos antes do tempo.
− Mas, há coisas que podemos controlar. Posso controlar quando o fruto cairá e posso controlar onde plantar a semente. Isso não é ilusão, mestre.
− Sim, mas não importa o que faça a semente virará um pêssego.
− Mas, um pêssego não pode derrotar Tai Lung.
− Talvez possa sim, se estiver disposto a guiá-lo, a nutri-lo, a acreditar nele...

Esse pequeno diálogo ilustra dois pontos importantes:

1º) Shifu precisa aprender a agir mais, assumir riscos, adaptar-se um pouco aos outros, adotar uma visão mais ampla e realista das coisas – nem tudo pode ser controlado, mas o verdadeiro líder precisa saber conduzir o liderado;
2º) O discípulo precisa sentir que o líder confia nele e que acredita em seu potencial.

b) O líder diretivo

O líder diretivo assume a responsabilidade pela tarefa e define quem deverá executá-la, como e quando. Dá um claro senso de direção para seus subordinados e, em momentos de crise, encarrega-se também de tirá-los das dificuldades. Negocia e estimula, mas, às vezes, é visto como autoritário pela equipe.
Em Kong Fu Panda, não tenho um exemplo claro desse tipo de líder. O que mais se aproxima é Mestre Tigresa. Sua postura dura e agressiva, está mais preocupada na ação. Falta-lhe a habilidade de ouvir, a paciência e humildade. Seu individualismo precisa dar espaço ao trabalho em equipe, mas ela é capaz de delegar funções.

c) O líder ponderado

É aquele que quer a harmonia no grupo e o melhor relacionamento entre todos, criando um clima de trabalho confortável. Segue procedimentos testados e ajustados e estabelece um ritmo de trabalho fácil para todos. A desvantagem é que, por apresentar poucos desafios à sua equipe, não estimula seu crescimento. Ele precisa aprender a dizer não e questionar mais, ser mais assertivo, crítico e, por vezes, distanciado.
Em Kong Fu Panda, o exemplo que mais se aproxima desse tipo de líder é Po. Embora fosse atrapalhado, desajeitado, gordo (para os padrões do Kong Fu), indisciplinado, sem a habilidade técnica dos demais, ele procurou se integrar ao grupo: cozinhava para eles, servia-os, elogiava os outros, agradecia, inspirava-se nos exemplos. Sua humildade e perseverança acabou por conquistar o respeito dos outros no final do filme.
Mestre Oogway se referiu a Po com uma brilhante frase: “você se preocupa demais com o que foi e com o que será. Diz o ditado: o ontem é história, o amanhã é mistério, mas o hoje é uma dádiva, por isso que se chama presente”.

d) O líder inspirador

Visualiza a tarefa como um todo. Considera todas as possibilidades e muda a direção do trabalho de acordo com a situação. É espontâneo, corajoso, entusiasta e aumenta o nível de energia do grupo. Mas, em situações que pedem decisões rápidas e objetivas, pode deixar sua equipe confusa e menos eficiente.
Mestre Oogway é a imagem idealizada desse tipo de líder. Sua paciência, serenidade e respeito pelos outros lhe renderam autoridade de seus liderados. Não possuía resposta para todas as perguntas, mas suscitava o desejo de solução. Sua capacidade de ouvir, sensibilidade e sabedoria em dizer as palavras certas, nas horas certas, despertava o melhor nas pessoas: ele conhecia os segredos da motivação.
A ideia do Pergaminho Sagrado como fonte ilimitada de poder funcionava como estimulo à perfeição do aspirante à Dragão Guerreiro. E, como Po descobriu mais tarde, “não existe ingrediente secreto”. Para se tornar algo especial basta acreditar. O Pergaminho não dava superpoderes a ninguém, apenas refletia o rosto de quem o contemplasse, ou seja, era apenas um estimulo para que o discípulo se empenhasse nas atividades. Mestre Oogway fez com que todos acreditassem nesse sonho inspirador. Mas, não bastava à competência técnica, o domínio do Kong Fu, o que importava realmente era o caráter do líder. Tai Lung não percebeu isso. Daí, a escolha de Po que era um rapaz bastante humilde, mas com potencial – só precisava que alguém despertasse isso nele.
Igualmente, também não existe “ingrediente secreto” na questão da liderança. O ingrediente especial “é você”. Para John C. Maxwell “promover a ascensão de outros é requisito fundamental para a liderança eficaz” (2008:17). A lógica para a vitória no Kong Fu, segundo o mestre Shifu, seria “achar o ponto fraco do adversário e fazê-lo sofrer por isso. É pegar o seu ponto forte e usar isso contra ele”. Já a concepção cristã subverte esse pensamento: “liderar sempre significa despertar vida no liderado e está a serviço, como exigido por Jesus” (Anselm Grüm, 2008:20). O Cristo se colocava a serviço do outro, por mais desprezado que ele fosse pela sociedade, como os leprosos, doentes e prostitutas. Jesus os via como iguais, dessa forma os elevava, restituía-lhes a dignidade perdida.

3º) Um líder dirige um grupo social

Diz-se que um grupo social é formado sempre que se tenha um objetivo entre os indivíduos, caso contrário, trata-se apenas de um agrupamento de pessoas. Os grupos podem ser de dois tipos: involuntários ou organizados.

a) Grupo Involuntário: se forma esporadicamente, sem intenção “de”. Como por exemplo, a multidão que se reuniu, no filme, para assistir a escolha do Dragão Guerreiro.
b) Grupo Organizado: forma-se quando é planejado. Os Cinco Furiosos são um exemplo disso.

“As pessoas tem a tendência a imitarem, inconscientemente, os seus superiores” (Weil, 2005:71). Assim, entende-se que a hostilidade do Mestre Shifu em relação à Po se refletia na hostilidade dos Cinco Furiosos em relação ao novo integrante.
Igualmente os membros de um grupo acabam por se identificarem uns com os outros. O indivíduo passa a se comportar conforme as normas internas do grupo. Entre Tigresa e os demais Furiosos havia laços de companheirismo e fidelidade como se observa na cena em que ela sai sozinha para combater Tai Lung, mas os outros, ao invés de impedi-la, seguem-na para ajudá-la.
Quando outro indivíduo se comporta diferente dos demais membros do grupo, este não é bem aceito e sofre as “sansões normalizadoras”: pequenas punições, críticas, isolamento etc. Foi o caso da entrada de Po no grupo dos Cinco Furiosos, à medida que ele foi mudando de comportamento e os demais foram conhecendo-o melhor, ele passou a ter aceitação.
Devemos destacar também que grupo é diferente de equipe. Nesta, o interesse deixa de ser individual e passa a ser compartilhado. Quando o grupo se transforma em equipe há entre os membros confiança, empatia, respeito à individualidade, comunicação aliada à intenção, afetividade e afinidade. Os Cinco Furiosos eram mais que um grupo, eram uma verdadeira equipe, o que fica bem claro na cena da ponte, quando vão enfrentar Tai Lung: cada qual sabia que podia confiar no outro, a ponto de deixarem o Mestre Louva-a-deus (o menor da equipe e, aparentemente o mais fraco) segurar sozinho as cordas da ponte.
O desafio de uma equipe é fazer com que os membros confiem uns nos outros, que se envolva em conflito de ideias sem qualquer censura ou radicalismo, se comprometer com as decisões e ações, se concentrar na realização de resultados, não apenas nos indivíduos.
Uma equipe coesa corre o risco do sociocentrismo (as chamadas “panelinhas”), ou seja, tem a tendência de reagir em relação às outras equipes ou a qualquer situação como um só ser, mesmo que existam dimensões internas. O sociocentrismo provoca mesmo a tendência de considerar os outros grupos como inferiores, desenvolvendo-se entre as pessoas e favorecendo as rivalidades e ciúmes (Weil, 2005:86).
Para Anselm Grüm, “uma boa liderança enxerga não somente o todo e sua ligação ao conjunto maior, mas também o individual” (2009:20). Como, por exemplo, o Mestre Shifu que conhecia a fraqueza de cada um de seus discípulos e percebeu que não podia treinar o Panda da mesma forma como fizera com os demais.

4º) O líder consegue a “participação espontânea dos seus membros”

Como o líder consegue mobilizar as pessoas para alcançarem o mesmo objetivo? A questão gira em torno da influência que ele exerce. Esta se dá de duas formas: ou pelo poder ou pela autoridade.
James C. Hunter define poder como sendo “a capacidade de obrigar, por causa de sua posição ou força, os outros a obedecerem à sua vontade, mesmo que eles preferissem não fazê-lo” (2006:32). Na animação da Dream Works, temos o exemplo de Tai Lung que usa a força bruta e o medo para impor sua vontade.
Por outro lado, o mesmo autor salienta que “autoridade envolve a habilidade de levar os outros a fazerem – de bom grado – sua vontade” (2006:32). Por exemplo, Mestre Oogway tinha o respeito de todos e sua vontade prevalecia por mais absurda que pudesse parecer. Ele não precisava utilizar sua força, apenas sua autoridade.
Outro exemplo claro é Jesus. Cristo não ocupava nenhum cargo de poder: não era doutor da Lei, nem fariseu. Mas, as pessoas diziam que Ele ensinava como quem tem autoridade.

AS CARACTERÍSTICAS DE UM LÍDER SEGUNDO KUNG FU PANDA

• Coragem.
• Ver o todo, mas também o individual.
• Humildade.
• Saber delegar funções.
• Saber assumir o controle.
• Dedicação.
• Autoconhecimento.
• Espiritualidade.
• Paciência.
• Acreditar nas pessoas.
• Saber motivar.
• Ser um líder servidor.

Orfanato é uma Família?

O orfanato é uma faceta para acolher uma criança em condição de risco social (abandonada, maltratada ou com alguns dos seus direitos violados). O orfanato é um abrigo provisório, onde poderá permanecer por prazo incerto ou por apenas um dia até que seu problema seja resolvido ou pelo menos amenizado.
O trabalho que é realizado no orfanato tem como objetivo apresentar às crianças que precisam de um espaço seguro até os problemas familiares serem resolvidos ou suavizados. Se isso não ocorrer à criança é levada para programas de inclusão em uma família substituta (adoção). Os orfanatos não expõem placas e as atividades diárias pretendem se igualar as das famílias comuns.
Não devemos questionar o surgimento de orfanatos. Existem condições extremas que podem justificar a separação das crianças de seus pais biológicos. A separação é um fato da vida e o abrigamento também.
Mas o que podemos dizer das crianças que foram postas à vista a um alto grau de violência em suas famílias originais e quando foram afastadas destas, sendo inseridas em um ambiente complexo como o do orfanato? Como irão desenvolver seus conceitos morais? Que sequelas terão da exposição a esses arquétipos sobre sua moral e a urgência do sentimento de culpa? Será que existem diferenças entre estes grupos que foram expostas a modelos de moralidade diferenciados?

O OLHAR SIMBÓLICO SOBRE O ORFANATO

O orfanato oferta um ambiente psicossocial determinado por uma estrutura de relações diretas estabelecidas entre as crianças e os funcionários responsáveis por cuidar deles, e ainda, os valores que são transmitidos, envolvendo esperança, normas, proibições e incentivos, ao decorrer de todo dia se tornando uma monotonia, o que não oferece a criação de novos laços afetivos e qualitativamente importantes. Isso acontece por que a criança vive em um ambiente coletivizado, onde: as tarefas são executadas com um acompanhamento direto de um grande grupo de pessoas, todas recebem o mesmo tratamento e realizam as mesmas tarefas em conjunto. Para cada tipo de tarefa, os horários são pré-estabelecidos e determinados pelos funcionários.
O orfanato pretende proporcionar as crianças em situação de risco condições adequadas para o seu desenvolvimento através de uma família desestabilizada. A questão que perpetua é quanto à convivência em um orfanato de condição emocional tão carente ou tão enérgico se comparado à família biológica, influencia rumo ao desenvolvimento da criança que esta inserido nesta instituição. É possível encontrar força e espaço para realizar a caminhada do desenvolvimento sem perecer frente às perdas, ao desamor, ao abandono e ao massacrador ambiente da instituição? Mesmo crescendo em um ambiente de calamidade, seja em uma família ou em um abrigo, é possível construir uma infância saudável?
Podemos afirmar que a constituição do orfanato resulta em um abandono anterior. Se não existisse este abandono de crianças não existiriam os orfanatos, abrigos, casas lares e educandários.

ARQUÉTIPO DO ÓRFÃO E DO ABANDONO

Para Jung (1986) “Arquétipo significa a forma imaterial à qual os fenômenos psíquicos tendem a se moldar.” O próprio autor usou o termo para se referir aos modelos inatos que servem de matriz para o desenvolvimento da psique.
Todos nós precisamos viver o abandono inicial para deixarmos a nossa primeira infância para podermos caminhar em direção à independência. Conforme a criança vai caminhando, irá deixar para traz a sua infância até chegar a um ponto onde precisará se abandonar para dar origem ao jovem. Nas fases do homem, um vive o abandono e outro o abandonar. (JUNG, 2000).
A criança é uma alma que luta para se manter equilibrada dentro do orfanato. Assim como existem várias perdas, existem também novas possibilidades de acolhimento e afeto. Os funcionários dizem que não conseguem conviver com as crianças por causa do sentimento de pena que os domina, muitos acabam abandonando o trabalho porque dizem sofrer muito, pois não conseguem conviver com a criança e seu histórico difícil.
Pearson (1986) aponta que outro aspecto é a culpa que é acompanhada pela falta de valores. Algumas crianças dizem que não merecem ter pais presentes porque provavelmente fizeram algo de errado e merecem ser punidos. É uma culpa diferente da do adolescente que se afasta dos pais. O abandonado tem um sentimento de culpa muito profundo, a criança se culpa por estar vivo.

O ARQUÉTIPO DA MÃE

Jung (2000) afirma que o modelo materno está ligado com a criatividade, ao acolher, fertilizar, sustentar, amar e também ao obscuro, veneno e a morte. O modelo materno não esta organizado unicamente quando uma mulher da à luz ou adota um bebê. A influência do modelo materno esta presente quando a mulher e o homem vivem juntos o fertilizar, nutrir, acolher, devorar ou aprisionar. Se ideias são geradas, são adotados valores de uma vida, se sentimentos e pensamentos são alimentados, os projetos de vida são devorados com o envenenamento de relações.
O que observamos é que as crianças que tiveram algum laço afetivo com a mãe biológica ou uma pessoa que pudesse substituí-la por certo tempo antes de serem abrigadas têm uma grande capacidade de adaptação do ambiente do orfanato. Essas crianças se recusam a aceitar o orfanato como uma família, sempre afirmam que não é a família. A criança sente a ausência da mãe, mas não é observado a necessidade de alguém para substituí-la literalmente. Como se a mãe estivesse sempre presente, assim, não existe a necessidade de por alguém em seu lugar.
Porém, crianças que nunca tiveram um contato com uma mãe ou com uma figura substituta conseguem criar em sua mente uma imagem de mãe presente. Geralmente conseguem desenvolver com facilidade laços afetivos com as chamadas mães sociais e mesmo sabendo que não é sua mãe biológica insistem em chamá-la de mãe.

O ARQUÉTIPO DO PAI

Heinrich (1997) aponta que a função do pai é ensinar aos filhos as leis da vida. E é com estes ensinamentos que os filhos irão desenvolver suas aptidões para aceitar o mundo, para poder assim se organizar seu interior e exterior.
O complexo paterno vai se construindo conforme a criança experimenta a convivência com seu pai natural ou com alguém que possa desempenhar este papel. E é nessa convivência com o outro que uma figura paterna irá ser humanizada. As convivências com o modelo paterno se organizam em volta dessa imagem que a criança cria internamente, aderindo a esta imagem, características e problemáticas.
Se for o pai que repassa as leis da vida, é ele que também estimula o filho para que experimente por conta própria, um pai que sonha de mais não deve ser abandonado, porque não existe nada neste mundo que possa justificar o afastamento.
O filho que possui um pai assustador geralmente possuirá medo da vida. Em alguns casos como este haverá muito a experiência de fuga da vida que somente a tornara mais difícil.

IRMÃOS, AMIGOS

Além dos pais existem também os irmãos. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), exige que irmãos devam ficar juntos e não separados. Porém, nem sempre essa lei é cumprida, pois não é difícil encontrar irmão amparados juntos, morando com outros irmãos ou com filhos únicos em uma mesma instituição. Viver a infância com os irmãos é de extrema importância para o desenvolvimento da psique, pois se experiência um encontro distinto do relacionamento vivido com os pais.
Downing (1991) diz que no orfanato, a criança tendo o irmão próximo, terá uma chance a mais para permanecer uma lembrança familiar, quem sabe seja a única coisa que resistiu de um mundo que até naquele instante era o seu mundo. Se os irmãos permanecerem juntos, terão mais chance de se ajustar ao novo ambiente, pois quando a dor é compartilhada ela diminui. Mantendo os irmãos unidos mantêm-se viva a memória familiar.
Geralmente a criança mais velha relata acontecimentos para o irmão mais novo sobre a história familiar, como era os pais, o que aconteceu, algo sobre os tios e o restante dos parentes. Conversando entre irmãos, fatos do passado são recuperados e ambos conseguem manter vivas as origens.
Para as crianças analisadas no orfanato parece ficar claro a distinção entre quem é e quem não é o irmão. Mas também fica visível que os laços fraternos não são estabelecidos unicamente entre os irmãos de sangue. A experiência vivida no orfanato permite a união de laços afetivos muito fortes, onde o irmão e o amigo podem compartilhar o mesmo grau de familiaridade.
Essa pode ser uma das possíveis saídas para os irmãos que estão tendo a experiência do orfanato como abrigo. São estabelecidos e compartilhados sentimentos sobre a sensação de serem todos os irmãos. O sentimentalismo familiar é mantido e o sentimento de separação e solidão pode ser enfrentado e superado.

O REGIME DO ORFANATO

ECA (1990) aponta que o modelo de atendimento em regime de orfanato surgiu na Europa, aproximadamente no ano de 1949, no pós-segunda guerra, com muitas crianças que ficaram órfãs e as mulheres que perderam seus filhos e os maridos na guerra. Diante dessa condição, o pedagogo Hermann Gmeiner passou a reunir as mulheres e as crianças que foram separadas de suas famílias, criando assim um lar que pudesse substituir o antigo. E foi assim que surgiram as aldeias SOS’s. As tais aldeias foram formadas por casas que acolhiam crianças e mulheres órfãs e estas eram criadas por outras mulheres ou podemos chamar de mães substitutas.
Podemos definir o orfanato como sendo uma unidade de abrigo de caráter passageiro, pois a criança irá permanecer até que o Juizado da Infância e Juventude decida o seu destino. O orfanato deseja ofertar a criança um ambiente semelhante ao das famílias convencionais, oferecendo assim propostas de desenvolvimento para poder garantir os direitos da criança.
Os orfanatos são sustentados por organizações não governamentais, registrados no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. O referido Conselho repassa o registro ao Conselho Tutelar e a autoridade judiciária da respectiva localidade. Somente é fornecido o registro para as instituições que apresentem instalações físicas e condições de acomodação, que sejam regularmente construídas, que exponham um plano de trabalho coexistente com os princípios legislativos e que o quadro de funcionários seja formado por pessoas competentes e idôneas.
Os funcionários que são destinados a tarefas para auxiliar no desenvolvimento do orfanato são chamados de pais sociais. Estes devem ser competentes e orientados para que não desobedeçam as leis, principalmente no item que afirma que nenhuma criança ou adolescente possa ser maltratada descriminada, explorada, violentada ou sofrer algum tipo de crueldade ou imposição.

COMENTÁRIOS FINAIS

O orfanato é mais um caminho e não um fim. É uma acolhida para a criança que sofreu a separação familiar e um estimulo para retornar para uma nova fase da vida. A criança pode passar pela instituição e sair com um tesouro que poderá nutri-la e a sua nova família. Esse tesouro que a criança poderá levar do orfanato é fundamentalmente a habilidade de lidar com os acontecimentos de sua vida de forma exemplar, acatando assim a vida paradoxal de que as coisas, os acontecimentos podem ser um veneno e um remédio.
Podemos ver o orfanato como um mal suave e a fase do abrigamento uma doce ferida, que dói, mas também nutre. As marcantes lembranças podem ter surgido de duras batalhas ou de aprendizado e amor.
Ouvir as crianças abrigadas é um dos primeiros passos para que o tesouro seja descoberto. Mas primeiramente devemos ouvir a criança que mora dentro de cada um. Não é uma tarefa fácil, talvez seja tão complexa quanto acolher uma criança abandonada sem considerá-la como vitima, alvo de pena.
Devemos levar o psicólogo para o interior do orfanato. Apresentar caminhos de reconhecimento das figuras exemplares que ali moram e convivem no seu dia a dia com o ambiente institucional. Recuperar o humanismo dos moradores. Aceitar que os erros e acertos nos ajudam a crescer.
A vida ensina que a mãe é uma figura que surge nos sonhos, que esta dentro e não fora da nossa vida. Será que somente isso é o suficiente? Se fosse não existiria um desejo enorme em ter uma família. As crianças, sem exceção expõe seu desejo de ir embora, ser adotado, voltar para uma família, seja ela biológica ou substituta. Querem sair de uma vida provisória para poder encontrar um infinito amor nos braços de uma família. Nem a mãe substituta e nem ninguém no orfanato poderão oferecer isso.
A reflexão psicológica que quero estabelecer para que os leitores deste artigo possam refletir é que a mãe, o pai e a criança formam um ambiente familiar. Mas o orfanato e as crianças que ali vivem e que são de diferentes origens, e ficam juntas por um tempo considerável formam uma família?
Caros leitores, concluo com esta questão e espero que a reflexão fosse realizada e a resposta desta pergunta espero que cada um tenha respondido em seu interior.