terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A Cura de Schopenhauer

Este livro relata a história de Julius, um homem de 65 anos, psiquiatra que tratava de pacientes em estado terminal e realizando um exame de rotina descobriu que tem um câncer de pele. Com a descoberta seu estado emocional é alterado, pois os métodos utilizados com os seus pacientes parecem não ter nenhum efeito sobre ele se deparando com a possível morte.
Perdido, busca apoio em seus livros, relembrando a obra “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche, que valoriza a vida e o destino, onde devemos encontrar com a morte na hora certa.
Em um trecho do livro de Nietzsche tem uma pergunta que é mais ou menos assim: “Você repetiria essa vida eternamente?”. É uma questão que põe Julius a pensar sobre sua vida imaginando se espera covardemente a morte ou se continua vivendo como se não soubesse de nada. Fica indeciso nesse impasse. Parado ele não ficaria, mas o seu estado emocional estaria afetado. Com suas conclusões decide não ficar parado e busca rever alguns pacientes e saber se ele fez alguma diferença em suas vidas.
Decidiu rever o seu maior fracasso, Philip Slate, um homem bem aparentável que era viciado em sexo. Quando conseguiu encontrar Philip, descobre que ele se tornou também um terapeuta, seguidor de Schopenhauer, que é um filósofo pessimista.
Philip tem o desejo de se tornar um orientador filosófico através dos pensamentos de Schopenhauer, mas para isso ele necessita de algumas horas de supervisão de um profissional, então para isso ele pede a ajuda de Julius e em troca, Philip participa de uma terapia de grupo que é para melhorar o seu relacionamento com as pessoas. E neste grupo haverá encontros emocionantes entre os pacientes e o terapeuta, em que cada um deles irá despejar seus temores, defesas e fraquezas para aprenderem a serem mais humanos e felizes.
De acordo com Schopenhauer, para nos salvarmos do sofrimento humano que é causado pela existência, devemos renunciar o mundo nos tornando livres, mas para Julius a nossa salvação é conquistada quando construímos relacionamentos sólidos, que devem ser baseados no amor e na compreensão das diferenças e dos limites de cada um.
Fazendo a ligação entre a realidade e a ficção, A Cura de Schopenhauer, nos oferta um foco fiel dos contornos da terapia de grupo, tendo como fundo principal a vida e a obra de Arthur Schopenhauer, que publica a dolorida técnica do autoconhecimento.
Neste grupo de terapia alguns membros tiveram grande influência e outros com participações aleatórias, acabavam mudando o rumo dos assuntos e são nas relações interpessoais que as pessoas vão aprendendo a conviver umas com as outras, em seus momentos de interação, troca de aprendizagens e apresentação de relatos pessoais.
O sucesso no desenvolvimento da terapia de grupo vai depender da comunicação existente dentro do mesmo. É preciso o intermédio de alguém, um líder, os princípios e ideais devem ser autênticos, únicos e singulares para que ocorra um bom desenvolvimento grupal.
Em meio à sociedade nós nos tornamos inautênticos, buscando copiar as ações e idéias de outras pessoas, mas não devemos levar isso como uma regra diária, pois ser autêntico é algo muito bom, sendo o adequado.
Como Schopenhauer dizia “Viver é sofrer”, era uma forma que este filósofo encontrou para afirmar que os nossos relacionamentos e desejos só nos levam a sentir dor e tédio. E para nos livrarmos deste sofrimento humano, devemos abdicar ao mundo.
A concepção de Julius é totalmente ao contrário da de Schopenhauer e mesmo sabendo que tem um câncer que seja incurável não é o suficiente o bastante para que lhe tire a vontade de querer ajudar as pessoas a localizarem seus próprios caminhos.
É através da terapia de grupo que os relatos humanos, desvinculam-se da mente e de seus corações, tornando-se mais reais do que a própria realidade e dentro do grupo deve ser pratica vários atos de reciprocidade entre os integrantes, por que em essência todos buscam objetivos novos para o próprio grupo e o mesmo fornece as respostas para os seus integrantes.
Através dos relatos que a pessoa faz dentro do grupo, ela busca compreensão, afeto, acolhimento dos demais integrantes, pois esta tendo abertura para poder expor as suas queixas com o intuito de receber feedback coletivo ou do terapeuta.
Com a existência de alguns grupos, os mais conhecidos são os grupos em “Série” e em “Fusão”. O grupo em série é quando os indivíduos não se conhecem e tem um objetivo em comum, mas este objetivo é externo ao grupo. Já o grupo em fusão é quando os indivíduos se conhecem, possuem um objetivo em comum e este objetivo é interno ao mesmo, onde todos trabalham em conjunto para que o objetivo seja alcançado. A função do grupo é fazer a inclusão das pessoas e nunca a exclusão.
Sendo pré-avisados de que o grupo iria terminar fez com que os pacientes quisessem tratar de assuntos mais importantes do que os banais. Para que os integrantes do grupo pudessem aprender mais ainda com a relação existente mesmo que estivesse prestes a terminar, deveriam iniciar com o “aqui - agora”, que é o ponto de partida para a aprendizagem, sendo que a experiência é direta na pessoa. Não tem como sair do foco aqui – agora, apenas temos a chance de poder modificá-lo e pode ser que nestas modificações ocorram desfragmentações do grupo.
Cada sessão se iniciava com a apresentação de sentimentos diversificados, pois os assuntos de cada um não seriam mais abordados em sua individualidade com o terapeuta Julius, outros olhavam para ele como se quisessem guardar seu rosto em suas memórias. Isso fez com que Julius fizesse uma síntese de cada paciente e o motivo de estar ali. Pam, por problemas com os homens; Rebecca porque sua aparência influenciava sua relação com os outros; Tony por causa de uma relação destrutiva com Lizzy e brigas com ouros homens; Gill veio por causa de conflitos conjugais; Stuart, porque a mulher ameaçava deixá-lo; Bonnie, por solidão, problemas com a filha e o ex-marido e Philip como condição de obter orientação, porém mais do que ter a orientação, era importante mostrar a Philip que ele precisava melhorar sua relação pessoal, com o mundo social.
Nossa sina é de que enquanto respiramos, vamos afastando a morte que é uma ameaça constante, mas no final de tudo ela acaba vencendo, pois é assim desde o nosso nascimento até o nosso fim. Mesmo assim continuamos vivendo e batalhando todos os dias. Seria como se nossa vida fosse um bexiga, nós assopraríamos enchendo-a até chegar um ponto em que iria estourar.
Os terapeutas são como pais. Bons pais dão condições para que seus filhos tenham a capacidade de sair de casa e ser um bom adulto depois de ter aprendido e ter recebido orientações sobre as leis da vida, assim são os terapeutas que desejam que seus pacientes saiam bem ao final do tratamento. Um fator que deve ser levado em consideração é o fato de que os efeitos, resultados da terapia podem não ser instantâneos, mas sim retardados.
Durante a terapia de grupo, no processo de reciprocidade, os integrantes buscam encontrar respostas para as suas queixas. Buscam encontrar no grupo através dos relatos vividos dos componentes muitas respostas que para a pessoa estão encobertas, realizando conexões com as palavras e aprendizados. Usando os conceitos práticos da teoria da Janela de Johari podemos identificar os componentes de cada grupo, encaixando-os no mesmo. Temos a janela ideal, que é uma pessoa aberta; o entrevistador é conhecido por mim, mas não pelos outros; o matraca é conhecido pelos outros, mas não por mim e o tartaruga é a pessoa que não tem mobilidade dentro do grupo. É freqüente encontrar pessoas que se enquadrariam nestas situações nos grupos.
As idéias pessimistas de Schopenhauer que são relatadas por Philip durante as sessões vão desenvolvendo uma oscilação mágica, que é importante nas relações dos pacientes. Estas idéias pessimistas sobre concepções do mundo fazem uma ligação entre à vontade de Julius em querer ajudar seus pacientes para demonstrar que é através dos relacionamentos sólidos que teremos compreensão e amor em nossos relacionamentos e não o isolamento.
A cura vai acontecer por intermédio da relação paciente-terapeuta. O terapeuta deve buscar ter um bom relacionamento com o seu paciente e o mesmo deve corresponder para que o objetivo dos dois seja alcançado. Um processo essencial é o aqui-e-agora que se defende através da relação interpessoal e encarando o grupo em terapia como um microcosmo social.
Em certos momentos a teoria contribui e muito no desenvolvimento da terapia, mas é essencial que haja um bom relacionamento entre ambos ou entre todos os pacientes se for terapia de grupo.
Somos indivíduos tendenciosos a sermos singulares em relação a outras pessoas quanto a nossa forma. E essa tendência é o nosso temperamento, que vai se explanando em nossos primeiros anos de vida, e acompanha-nos ao longo de nossa vida.
A pessoa pode mudar suas idéias, suas crenças, mudar de profissão e podendo realizar inúmeras revoluções na própria vida, mas o seu modo de ser não mudará, isto é, ele continuará fazendo tudo com o mesmo espírito. O caráter em si não se altera, mas dizer que ele não muda não significa proteger a imutabilidade da personalidade, por que o temperamento é um componente da personalidade. O mundo interno da pessoa pode revolucionar, mas a essência básica do individuo não irá mudar.
Mesmo que classifiquemos um individuo e suas tendências, ela é uma pessoa singular, pois o seu modo de ser será completado com os conteúdos que lhe caracterizará de forma única, sendo exclusiva em relação aos outros seres humanos.
Ainda que a essência de nossas tendências dita ser separada da nossa situação temporal e ambiental atuais pelo fato de conter a existência, do existir e de prosseguir existindo em qualquer instante de nossa história, suas revelações emocionais e comportamentais necessitam em denominação do que é normal psiquicamente, estar sempre unidos e ajustados ao modelo sócio-cultural e as possibilidades de ação de cada um. Portanto, não é em sua totalidade que nossos instintos irão se manifestar na maneira de ser de cada pessoa, mas sim, estas mesmas tendências domesticadas e aculturadas. As ações instintivas são muito difíceis de acontecerem manifestando-se em condições psíquicas normais. Essas revelações comportamentais podem acabar sendo misturadas devido às pressões que sofremos e particularidades afetivas de cada indivíduo, e que acabam se escondendo de determinada forma, que ficam diluídas no caráter do próprio indivíduo.
Para que ocorra um estado de equilíbrio entre o individuo e o meio onde ele vive é preciso que haja um relacionamento harmônico entre as diversas tendências, suas possibilidades e as pressões exercidas pelo ambiente. Momentos em que nos são apresentadas situações de emergência, podemos tomar atitudes primitivas, no qual desempenhamos uma atitude vivencial em direção a sobrevivência, pois todas as vezes que somos ameaçados em relação a nossos instintos básicos poderemos desenrolar o comportamento de ameaça e prevenção em nossa defesa.
O individuo não conseguindo realizar este tipo de controle sobre as suas tendências, principalmente em situações de emergência, o individuo vai se encaminhando para a área dos impulsos naturais e pelas suas paixões mais primitivas. É o nosso espírito, ou algo assim, algo mais humano que acaba exercendo atividades harmoniosas em nossos relacionamentos civilizados com o ambiente em que vivemos.
Tendo nossas próprias tendências naturais que nos identificam como indivíduos de uma mesma espécie, vamos encontrando distinções próprias que nos apresentará ao nos relacionarmos com o mundo.

COMENTÁRIOS

Quando chegamos ao fim da vida, nós seres humanos percebemos com um ar de surpresa que vivemos com uma provisoriedade a nossa vida e que as coisas que largamos como sendo sem graça ou sem interesse eram justamente os que mais importavam que deixaram nossa vida deficiente.
Se tivéssemos pouco tempo de vida deveríamos viver o tempo que nos resta, continuando a fazer exatamente o que sempre nos deu prazer e teve sentido para nós. Devemos viver de forma que possamos aceitar, a querer a mesma vida sempre, que possamos aceitar se nos oferecerem viver outra vez e mais outra, eternamente, exatamente do mesmo jeito. Devemos reverenciar e celebrar a vida, é preciso escolher a vida, usufruir em vez de ser usufruído por ela.
O autor parece querer dar vida social para Arthur Schopenhauer se baseando em seu ser pessoal e social, atribui aos personagens do grupo de terapia, as complicações nos relacionamentos, os desajustes em toda sua gama e nuances. Para cuidar desse banquete existencial, vem à terapia, calculista, tentando de alguma forma incentivar e destacar o que o outro possui de melhor, dar um conforto no modo de ser do indivíduo.

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